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cris loureiro blogs

o meu nome impresso


Já não me lembro da primeira página que escrevi, a primeira história que contei, o primeiro poema que me saiu do coração, já foi há muitos e muitos anos. Na dúvida entre ser Jornalista e ser Arquiteta eu escolhi a segunda porque eu não queria ser jornalista, eu queria ser escritora mas não existiam cursos disso na altura em que me foi feito o teste psicotécnico.


No outro dia recebi em mãos o Tomo II da Antologia De Poesia Portuguesa Contemporânea "Entre o Sono e o Sonho" que contem a página 25, a página que reteve a minha atenção, emoção e orgulho. Ver um trabalho publicado é de facto uma extrema felicidade. Ler o nosso nome impresso, a encerrar palavras que já sabemos de cor é gratificante, motivante e inspirador, conseguir essa proeza, sem pagar por ela, é uma tarefa quase heroica.

É tão pouco estimulante escrever em Portugal que eu não entendo muito bem como é que há tantos novos escritores, entender até posso entender mas é um entendimento deprimente. Quando pagamos para sermos publicados, em vez de nos pagarem para nos publicarem é assumirmos uma enorme falta de amor pelo que fazemos mas na verdade, bons ou maus escritos, só conhecerão a luz do dia nas livrarias se pagarmos a edição dos primeiros exemplares. Não está em causa o valor intelectual do manuscrito, todos são reduzidos ao mesmo valor, ao valor da falta de audácia e olho para o negócio que hoje impele a maioria das editoras. Podes ter um best seller no disco rígido ou podes ter um monte de patacoadas o que vai levar à impressão ou não das tuas palavras é o dinheiro que tiveres para investir nelas, seja à lei de cartões de crédito, empréstimos duvidosos ou poupanças, o risco é unicamente teu, tu que nunca conseguirás com isenção julgar a qualidade daquilo que produzes. Ou, se fores uma blogger na berra, uma cara da Caras (revista), ou uma vedeta que caiu nas graças do povo, então esquece tudo o que eu disse, patacoadas ou não, podes guardar os teus milhões que a editora, com toda a generosidade, patrocina.


Já não se fazem José Saramagos nem Agustinas Bessa-Luís, já não se publica por paixão e conhecimento, publica-se meramente por negócio, já não são os livros que educam o povo e sim a ignorância do povo que "educa" o que cabe nas prateleiras das livrarias. Não sei onde me encaixarei neste cenário, não sei se voltarei a ver o meu nome impresso, só sei que continuarei a escrever e a acreditar que um dia a oportunidade me encontrará mais uma vez e eu, mais uma vez, não a deixarei fugir ♥

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